terça-feira, 4 de dezembro de 2007

ARTIGO TV E ESCOLA

TV E ESCOLA: UMA RELAÇÃO ALÉM DA CORRÊNCIA.1
Por Alany Araújo.2
Este trabalho é uma extensão das discussões, pesquisas e reflexões ocorridas durante a elaboração e apresentação do Seminário TV e Vídeo do qual a autora fez parte. O artigo propõe-se a apresentar as influências da TV em nossa sociedade e a relação entre esta e a Escola numa proposta para construção de uma educação formadora de cidadãos críticos, autônomos e participativos. Para tanto, o mesmo embasa-se no trabalho de alguns teóricos cujas pesquisas e reflexões contribuíram para a elucidação do que será apresentado.

PALAVRAS-CHAVE: TV, Escola e Educação.

AS INFLUÊNCIAS DA TV NA SOCIEDADE


Nunca houve uma época de tantas transformações na sociedade como esta. O tempo presente é marcado pelas profundas mudanças introduzidas pela globalização, o neoliberalismo e as revoluções tecnológicas nos campos sociais, econômicos, políticos, culturais e educacionais em escala global. A sociedade atual, fruto dessas transformações é profundamente marcada pela informação, pelo conhecimento e pela técnica, caracterizada por um novo modelo de produção no qual estão presentes também as novas tecnologias. É, pois, dentro desse novo contexto no qual as tecnologias evoluem em um ritmo anteriormente inimaginável e as informações são renovadas e ampliadas a cada minuto rompendo com os limites do tempo e dos espaços geográficos com o uso cada vez maior da internet, que encontramos a TV como o veículo de informação mais difundido e utilizado entre as pessoas. Esse veículo de comunicação não perdeu seu lugar de destaque mesmo após o surgimento dos Orkuts e Msn, dos jogos de internet e dos sites de busca. Ela continua entretendo, informando, continua invadindo os lares e fazendo novos adeptos de sua influência.
Desde sua tímida chegada nos anos 50, a TV tem se tornado um objeto indispensável nos lares de milhões de brasileiros. Seja em um humilde barraco de madeira construído sobre palafitas ou em uma luxuosa cobertura das grandes cidades, a existência de um ou mais aparelhos de TV não é algo difícil de ser observado.

“Em muitas famílias, condiciona tanto a organização do tempo como a formação do espaço. Depende da televisão a hora de ir deitar, de ir ao banheiro, de quando serão feitas as refeições, de que forma será organizado o fim de semana, o que consomem...” (FÉRRES, 1996, pág. 08)

A chegada da TV em nossa sociedade trouxe enormes mudanças para a vida das pessoas. Um exemplo disso são os velhos costumes adquiridos pelo homem ao longo dos anos como as conversas em rodas de amigos, em bares, esquinas e nas casas que estão sendo cada vez mais substituídas pelo futebol ou pela novela das oito. A moda, os valores e o próprio jeito de falar das pessoas estão perdendo cada vez mais suas características próprias diante das influências da telinha; até mesmo as crianças que ficam o dia todo confinadas dentro de suas casas por causa da violência ou porque suas mães precisam trabalhar, encontram na TV uma eficiente alternativa às suas brincadeiras de gude.
Muito mais que um meio de comunicação, a TV em nossa sociedade é também objeto de consumo e favorecedora do consumismo apregoado pelo capitalismo presente em nossos dias.

“Tudo na televisão incita o consumo, porque a televisão é reflexo e sustentação de uma sociedade para o consumo”. (FÉRRES, 1996, pág. 26)

As grandes empresas conseguem altos índices de vendas após anunciarem seus produtos na TV; os comerciais por ela veiculados produzem um grande efeito na sociedade que internaliza os apelos dos grandes anunciantes que tentam convencê-los de que seus produtos são bons e que todos precisam comprá-los. Incrivelmente, as pessoas vão construindo suas idéias do que podem ou não comprar, do que precisam ou não ter e do que é bom ou ruim com base naquilo que é divulgado na TV. Dificilmente uma pessoa deixará de levar aquele sabão em pó que é anunciado constantemente na TV para comprar o outro do qual nunca ouviu falar, por melhor que este seja. A TV normalmente está sempre mostrando um novo produto (mais moderno, mais bonito, com muito mais funções etc.) mesmo que a versão anterior desse mesmo produto mal tenha chegado às prateleiras, como é o caso dos celulares e computadores dos quais um novo modelo é lançado no mercado em um espaço de tempo curtíssimo. A TV incube-se da missão de convencer os seus telespectadores da necessidade de terem esse novo produto mais moderno, mais bonito e com muito mais funções que aquele que eles possuem em sua casa e que foi comprado no ano passado e com isso vai gerando na sociedade uma cultura do consumismo irrefreado e inconsciente. Embora a propaganda tenha um grande efeito nas camadas populares, a maioria dos produtos anunciados na TV não podem ser consumidos pelas pessoas de baixa renda por serem caros e dispendiosos. Além de estimular o consumo, a TV também é objeto de grande consumo em nossa sociedade, a exemplo disso temos a grande disseminação desse aparelho em relação a outras tecnologias. Todos querem ter uma TV independente do nível social, da classe que ocupam e do nível de escolaridade. As pessoas adquirem a TV porque buscam sempre estar informados do que acontece ao seu redor ou talvez porque a mesma seja o único meio pelo qual passam a conhecer o mundo além de suas realidades como acontece nos sertões nordestinos onde as famílias que vivem na zona rural, distantes da cidade passam a conhecer o dia-a dia das grandes cidades e das pessoas que nelas habitam.
A TV também é um aparelho ideológico a favor das elites que detém todo processo de produção e divulgação das informações veiculadas pelos meios de comunicação. Embora a TV tenha um alto nível de aprovação e receptividade por todas as camadas sociais, em suas programações e nas informações transmite, expressa apenas a visão, as idéias e as opiniões de uma classe: a elite. E isso porque grande parte dos meios de comunicação, principalmente as emissoras de rádio e TV, concentram-se nas mãos dos políticos e nas mãos daqueles que sempre estiveram à frente dos processos em nossa sociedade. É através da TV que as elites transmitem às camadas populares sua ideologia e garantem assim a manutenção do sistema social dividido hierarquicamente. As novelas trazem uma realidade completamente diferente daquela vivida pelas camadas populares; os telejornais são sempre produzidos a favor de quem está no poder e quando a TV decide mostrar o mundo no qual vivem as camadas populares, o faz maquiando a realidade e quase sempre colocando o indivíduo como responsável por sua condição miserável.Como meio de controle social essa mesma TV que informa e entretém a sociedade, que permite ao indivíduo a experimentação de várias sensações é usada também por aqueles que detêm o poder, pois, o processo de produção e divulgação de informações e até mesmo os programas são controlados por essas elites que permitem apenas a veiculação daquilo que lhes favoreçam. Não é de se estranhar que essas mesmas informações cheguem ao sujeito fragmentadas, dosadas em pequenas porções para que o telespectador não desenvolva seu senso crítico e não perceba a verdadeira intenção por traz delas. Os próprios programas de TV com suas imagens e sons fabulosos e suas histórias fascinantes, não permitem que o assíduo telespectador tome consciência de sua real situação de oprimido e excluído do processo social vigente. Um exemplo disso é o período no qual acontece a Copa do Mundo onde a sociedade, quase que no seu todo vive um momento de letargia total, pois, enquanto os canais de TV mostram imagens de um Brasil unido de Norte a Sul pela chamada “paixão nacional”, os mesmos ocultam: as notícias de corrupção por parte dos políticos; as greves das classes trabalhadoras em busca de melhores condições de trabalho; a seca, a fome, a miséria e o descaso que caracterizam os nordestinos; os desempregos; as desigualdades e os preconceitos entre outros infortúnios como se os mesmos nunca tivessem feito parte de nossa sociedade que vai às ruas de cara pintada e veste a camisa verde e amarela como símbolo de patriotismo e amor à nação.
Toda a influência da TV é alcançada através de uma linguagem específica que envolve o sensorial e o emocional daquele que a assiste. É através de uma linguagem que traz para o telespectador aquilo que lhe interessa e aquilo que mexe com suas emoções que a TV interage com seu público tornando-se eficaz em atingir nossos sentimentos.

“Os meios de comunicação, principalmente a televisão, desenvolvem formas sofisticadas multidimensionais de comunicação sensorial, emocional e racional, superpondo linguagens e mensagens, que facilitam a interação, com o público. A TV fala primeiro do “sentimento” – o que você sentiu”, não o que você conheceu; as idéias estão embutidas na roupagem sensorial, intuitiva e afetiva.”(MORAN, Outubro de 2007).

É por meio dessa linguagem que parte do concreto, do visível daquilo que é imediato, próximo, daquilo que faz sentido para o indivíduo que a assiste, que a TV produz um efeito eficaz nos sentimentos desse mesmo indivíduo, mexendo com suas emoções e seus sentidos. É por meio dessa linguagem também que a TV educa e transforma a sociedade e é justamente nesta eficiência da TV que se encontra a razão de sua concorrência com a escola.


A ESCOLA NA SOCIEDADE TECNOLÓGICA

Enquanto a sociedade vive um momento de grandes e complexas transformações, como foi dito anteriormente, a escola como espaço formador de cidadãos, caracteriza-se nesta sociedade de profundas mudanças como ambiente indiferente às mudanças trazidas pelas tecnologias do contemporâneo. Paradoxalmente, enquanto responsabiliza-se pela formação dos sujeitos que comporão nossa sociedade tecnológica, a escola isola-se em suas práticas arcaicas e tradicionais, cujo ensino não atrai e nem traz prazer algum para aqueles que estão envolvidos no processo educativo e não possue nenhuma ligação com a realidade vivida pelos alunos que não vêem o ambiente escolar como um espaço no qual seus valores, sua cultura e seus costumes são respeitados e reconhecidos. A prática pedagógica realizada em nossas escolas não possue nenhuma relação com as transformações trazidas pela revolução tecnológica, pois enquanto esta acontece de forma assombrosamente rápida, o ensino parece seguir na contramão. Contramão porque em uma boa parcela de nossas escolas essas tecnologias não estão presentes e quando existem são usadas como meros recursos didáticos por professores despreparados que não conseguem articular o uso dessas tecnologias ao processo pedagógico, o que faz com que o ensino se torne distante da vida e da realidade das crianças e jovens que freqüentam as escolas já que uma parcela significativa deles utiliza esses equipamentos em seu dia-a-dia como meios de informação, entretenimento e comunicação como é o caso da TV que encontra um alto índice de aprovação por parte dos alunos que dedicam boa parte de sua horas diárias a assistirem aos programas apresentados por ela.

“Os sujeitos da escola são telespectadores de muitas horas diárias, que computadas ao longo dos anos de vida indicarão entre os discentes de escolaridade inicial (de 1º grau) maior tempo de exposição à TV que envolvidos com atividades escolares (aulas e estudos)”.
“(...) Os alunos gostam de ver TV, vêem-na com prazer e aprendem pela TV”.(PENTEADO, 1991, pg. 97)

Através de suas linguagens e programas adaptados às diferentes faixas etárias, a TV torna-se mais atraente e interessante que a escola que desconsidera em seus processos de formação e em seu currículo o aluno e suas experiências de vida.

“A TV fala da vida presente, dos problemas afetivos – a fala da escola é muito distante e intelectualizada - e fala de forma importante e sedutora – a escola em geral é mais cansativa (...)”. (MORAN, Novembro de 2007).

Assim a TV torna-se mais eficiente em educar que a escola, pois recursos (lingüísticos) daquela são mais eficientes que os empregados por esta no processo educativo.

“(...) A TV somente entretém enquanto que a escola educa. Justamente porque a televisão não diz que educa o faz de forma mais competente. Ela domina os códigos de comunicação e os conteúdos significativos para cada grupo: os pesquisa, os aperfeiçoa, os atualiza. Nós educadores fazemos pequenas adaptações, damos um verniz de modernidade nas nossas aulas, mas fundamentalmente continuamos prendendo os alunos pela força e os mantendo confinados em espaços barulhentos sufocantes, apertados e fazendo atividades pouco atraentes. (...)”. (MORAN, Novembro de 2007).

Diante dessa realidade, uma pergunta surge: “Quem educa quem nesse processo?” É a escola que se propõe a isso, mas não faz adaptações para tornar o ensino significativo, que apresenta um alto índice de evasão de seus alunos e cujo processo de ensino-aprendizagem possue problemas crônicos de longas datas? Ou é a TV apresentando aquilo que os alunos querem ver e que tem significado para eles, que possue uma linguagem elaborada e eficiente que prende a atenção de seus telespectadores?E enquanto as tecnologias, especialmente a TV, ficam à margem do processo educativo, nossas escolas continuam formando cidadãos despreparados para o convívio nesta sociedade imersa em tecnologias, gerando assim um contingente humano de excluídos que certamente não encontrarão espaço neste mundo de globalização e competição em todos os setores.


CONCLUSÃO:


Acreditamos que para que a educação cumpra seu papel de formadora de sujeitos críticos e autônomos para a sociedade que se faz cada vez mais complexa, exigente, excludente como esta presente em nossos dias, não basta somente que a escola se proponha a educar e continue com seu ensino tradicional que não favorece a reflexão e a criticidade. Nem tão pouco que ela embase seu ensino no uso meramente de livros didáticos (que não possuem relação nenhuma com a realidade do aluno) e um quadro (branco, verde ou negro) onde o professor expõe suas aulas teóricas. Muito menos que nossos alunos continuem trilhando os caminhos da repetência do que é dito pelo professor sem a compreensão do mesmo e da reprodução do sistema social que os marginaliza. A escola tem que incluir em seu processo pedagógico o uso dessas tecnologias e especialmente a TV que tem sido responsável pelo tipo de valores, de comportamentos, de opinião e pela visão de mundo que as camadas populares adotam.Esta inclusão das tecnologias, especificamente da TV, ao processo pedagógico escolar, não significa o mero uso das mesmas como recursos didáticos que não favorecem a compreensão dessas tecnologias e sua importância, seu papel e sua influência na sociedade. É preciso que cada aluno aproprie-se dessas tecnologias, da TV, para compreender suas linguagens, avaliá-las, experimentá-las e criticá-las num processo no qual o aluno torne-se também o produtor do conhecimento e partilhe com outros os saberes por ele conquistados. A riqueza da apropriação da linguagem da TV no processo pedagógico está em explorá-la didaticamente fazendo com que os alunos reflitam sobre ela e a entendam criticamente, compreendendo sua influência na sociedade e em suas próprias vidas, deixando de serem assim seres alienados da realidade social da qual fazem parte. Dessa forma, TV e Escola podem inserir-se no mesmo espaço numa relação que vai além da concorrência: de cooperação. E a educação acontecerá como sempre se propôs: como instrumento de emancipação dos sujeitos e formadora de cidadãos críticos, reflexivos e participativos da sociedade na qual se inserem, capazes de compreenderem as diferentes linguagens existentes nesta mesma sociedade e de lutarem por seus direitos e por espaços que lhes foram negados durante toda sua vida por aqueles que lutam por manter e estão à frente dessa sociedade hierarquizada.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FÉRRES, Joan. Televisão e Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
PENTEADO, Heloísa Dupas. Televisão e Escola: conflito ou cooperação? – São Paulo: Cortez, 1991. – (Coleção educação Contemporânea).
MORAN, José Manuel. Desafios da televisão e do vídeo à escola. Disponível em:http://www.eca.usp.br/prof/moran/desafio.htm Acessado em: Novembro de 2007.

1. Artigo apresentado como requisito da disciplina EDC287- Educação e Tecnologias Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia/ Faculdade de Educação, sob orientação da professora Dr.ª Maria Helena Bonilla.
2. Graduanda em pedagogia pela Universidade Federal da Bahia.
ARTIGO ARTIGO ARTIGO

TV E ESCOLA: UMA RELAÇÃO ALÉM DA CONCORRÊNCIA.1


Por Alany Araújo.2


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Este trabalho é uma extensão das discussões, pesquisas e reflexões ocorridas durante a elaboração e apresentação do Seminário TV e Vídeo do qual a autora fez parte. O artigo propõe-se a apresentar as influências da TV em nossa sociedade e a relação entre esta e a Escola numa proposta para construção de uma educação formadora de cidadãos críticos, autônomos e participativos. Para tanto, o mesmo embasa-se no trabalho de alguns teóricos cujas pesquisas e reflexões contribuíram para a elucidação do que será apresentado.


PALAVRAS-CHAVE: TV, Escola e Educação.


AS INFLUÊNCIAS DA TV NA SOCIEDADE


Nunca houve uma época de tantas transformações na sociedade como esta. O tempo presente é marcado pelas profundas mudanças introduzidas pela globalização, o neoliberalismo e as revoluções tecnológicas nos campos sociais, econômicos, políticos, culturais e educacionais em escala global. A sociedade atual, fruto dessas transformações é profundamente marcada pela informação, pelo conhecimento e pela técnica, caracterizada por um novo modelo de produção no qual estão presentes também as novas tecnologias. É, pois, dentro desse novo contexto no qual as tecnologias evoluem em um ritmo anteriormente inimaginável e as informações são renovadas e ampliadas a cada minuto rompendo com os limites do tempo e dos espaços geográficos com o uso cada vez maior da internet, que encontramos a TV como o veículo de informação mais difundido e utilizado entre as pessoas. Esse veículo de comunicação não perdeu seu lugar de destaque mesmo após o surgimento dos Orkuts e Msn, dos jogos de internet e dos sites de busca. Ela continua entretendo, informando, continua invadindo os lares e fazendo novos adeptos de sua influência.

Desde sua tímida chegada nos anos 50, a TV tem se tornado um objeto indispensável nos lares de milhões de brasileiros. Seja em um humilde barraco de madeira brasileiros. Seja em um humilde barraco de madeira construído sobre palafitas ou em uma luxuosa cobertura das grandes cidades, a existência de um ou mais aparelhos de TV não é algo difícil de ser observado.

Em muitas famílias, condiciona tanto a organização do tempo como a formação do espaço. Depende da televisão a hora de ir deitar, de ir ao banheiro, de quando serão feitas as refeições, de que forma será organizado o fim de semana, o que consomem...” (FÉRRES, 1996, pág. 08)

A chegada da TV em nossa sociedade trouxe enormes mudanças para a vida das pessoas. Um exemplo disso são os velhos costumes adquiridos pelo homem ao longo dos anos como as conversas em rodas de amigos, em bares, esquinas e nas casas que estão sendo cada vez mais substituídas pelo futebol ou pela novela das oito. A moda, os valores e o próprio jeito de falar das pessoas estão perdendo cada vez mais suas características próprias diante das influências da telinha; até mesmo as crianças que ficam o dia todo confinadas dentro de suas casa por causa da violência ou porque suas mães precisam trabalhar, encontram na TV uma eficiente alternativa às suas brincadeiras de gude.

Muito mais que um meio de comunicação, a TV em nossa sociedade é também objeto de consumo e favorecedora do consumismo apregoado pelo capitalismo presente em nossos dias.

Tudo na televisão incita o consumo, porque a televisão é reflexo e sustentação de uma sociedade para o consumo”. (FÉRRES, 1996, pág. 26)

As grandes empresas conseguem altos índices de vendas após anunciarem seus produtos na TV; os comerciais por ela veiculados produzem um grande efeito na sociedade que internaliza os apelos dos grandes anunciantes que tentam convencê-los de que seus produtos são bons e que todos precisam comprá-los. Incrivelmente, as pessoas vão construindo suas idéias do que podem ou não comprar, do que precisam ou não ter e do que é bom ou ruim com base naquilo que é divulgado na TV. Dificilmente uma pessoa deixará de levar aquele sabão em pó que é anunciado constantemente na TV para comprar o outro do qual nunca ouviu falar, por melhor que este seja. A TV normalmente está sempre mostrando um novo produto (mais moderno, mais bonito, com muito mais funções etc.) mesmo que a versão anterior desse mesmo produto mal tenha chegado às prateleiras, como é o caso dos celulares e computadores dos quais um novo modelo é lançado no mercado em um espaço de tempo curtíssimo. A TV incube-se da missão de convencer os seus telespectadores da necessidade de terem esse novo produto mais moderno, mais bonito e com muito mais funções que aquele que eles possuem em sua casa e que foi comprado no ano passado e com isso vai gerando na sociedade uma cultura do consumismo irrefreado e inconsciente. Embora a propaganda tenha um grande efeito nas camadas populares, a maioria dos produtos anunciados na TV não podem ser consumidos pelas pessoas de baixa renda por serem caros e dispendiosos. Além de estimular o consumo, a TV também é objeto de grande consumo em nossa sociedade, a exemplo disso temos a grande disseminação desse aparelho em relação a outras tecnologias. Todos querem ter uma TV independente do nível social, da classe que ocupam e do nível de escolaridade. As pessoas adquirem a TV porque buscam sempre estar informados do que acontece ao seu redor ou talvez porque a mesma seja o único meio pelo qual passam a conhecer o mundo além de suas realidades como acontece nos sertões nordestinos onde as famílias que vivem na zona rural, distantes da cidade passam a conhecer o dia-a dia das grandes cidades e das pessoas que nelas habitam.

A TV também é um aparelho ideológico a favor das elites que detém todo processo de produção e divulgação das informações veiculadas pelos meios de comunicação. Embora a TV tenha um alto nível de aprovação e receptividade por todas as camadas sociais, em suas programações e nas informações transmite, expressa apenas a visão, as idéias e as opiniões de uma classe: a elite. E isso porque grande parte dos meios de comunicação, principalmente as emissoras de rádio e TV, concentram-se nas mãos dos políticos e nas mãos daqueles que sempre estiveram à frente dos processos em nossa sociedade. É através da TV que as elites transmitem às camadas populares sua ideologia e garantem assim a manutenção do sistema social dividido hierarquicamente. As novelas trazem uma realidade completamente diferente daquela vivida pelas camadas populares; os telejornais são sempre produzidos a favor de quem está no poder e quando a TV decide mostrar o mundo no qual vivem as camadas populares, o faz maquiando a realidade e quase sempre colocando o indivíduo como responsável por sua condição miserável.

Como meio de controle social essa mesma TV que informa e entretém a sociedade, que permite ao indivíduo a experimentação de várias sensações é usada também por aqueles que detêm o poder, pois, o processo de produção e divulgação de informações e até mesmo os programas são controlados por essas elites que permitem apenas a veiculação daquilo que lhes favoreçam. Não é de se estranhar que essas mesmas informações cheguem ao sujeito fragmentadas, dosadas em pequenas porções para que o telespectador não desenvolva seu senso crítico e não perceba a verdadeira intenção por traz delas. Os próprios programas de TV com suas imagens e sons fabulosos e suas histórias fascinantes, não permitem que o assíduo telespectador tome consciência de sua real situação de oprimido e excluído do processo social vigente. Um exemplo disso é o período no qual acontece A Copa do Mundo onde a sociedade, quase que no seu todo vive um momento de letargia total, pois, enquanto os canais de TV mostram imagens de um Brasil unido de Norte a Sul pela chamada “paixão nacional”, os mesmos ocultam: as notícias de corrupção por parte dos políticos; as greves das classes trabalhadoras em busca de melhores condições de trabalho; a seca, a fome, a miséria e o descaso que caracterizam os nordestinos; os desempregos; as desigualdades e os preconceitos entre outros infortúnios, como se os mesmos nunca tivessem feito parte de nossa sociedade que vai às ruas de cara pintada e veste a camisa verde e amarela como símbolo de patriotismo e amor à nação.

Toda a influência da TV é alcançada através de uma linguagem específica que envolve o sensorial e o emocional daquele que a assiste. É através de uma linguagem que traz para o telespectador aquilo que lhe interessa e aquilo que mexe com suas emoções que a TV interage com seu público tornando-se eficaz em atingir nossos sentimentos.

Os meios de comunicação, principalmente a televisão, desenvolvem formas sofisticadas multidimensionais de comunicação sensorial, emocional e racional, superpondo linguagens e mensagens, que facilitam a interação, com o público. A TV fala primeiro do “sentimento” – o que você sentiu”, não o que você conheceu; as idéias estão embutidas na roupagem sensorial, intuitiva e afetiva.”

(MORAN, Outubro de 2007).

É por meio dessa linguagem que parte do concreto, do visível daquilo que é imediato, próximo, daquilo que faz sentido para o indivíduo que a assiste, que a TV produz um efeito eficaz nos sentimentos desse mesmo indivíduo, mexendo com suas emoções e seus sentidos. É por meio dessa linguagem também que a TV educa e transforma a sociedade e é justamente nesta eficiência da TV que se encontra a razão de sua concorrência com a escola.

A ESCOLA NA SOCIEDADE TECNOLÓGICA


Enquanto a sociedade vive um momento de grandes e complexas transformações, como foi dito anteriormente, a escola como espaço formador de cidadãos, caracteriza-se nesta sociedade de profundas mudanças como ambiente indiferente às mudanças trazidas pelas tecnologias do contemporâneo. Paradoxalmente, enquanto responsabiliza-se pela formação dos sujeitos que comporão nossa sociedade tecnológica, a escola isola-se em suas práticas arcaicas e tradicionais, cujo ensino não atrai e nem traz prazer algum para aqueles que estão envolvidos no processo educativo e não possui nenhuma ligação com a realidade vivida pelos alunos que não vêem o ambiente escolar como um espaço no qual seus valores, sua cultura e seus costumes são respeitados e reconhecidos.

A prática pedagógica realizada em nossas escolas não possui nenhuma relação com as transformações trazidas pela revolução tecnológica, pois enquanto esta acontece de forma assombrosamente rápida, o ensino parece seguir na contramão. Contramão porque em uma boa parcela de nossas escolas essas tecnologias não estão presentes e quando existem são usadas como meros recursos didáticos por professores despreparados que não conseguem articular o uso dessas tecnologias ao processo pedagógico, o que faz com que o ensino se torne distante da vida e da realidade das crianças e jovens que freqüentam as escolas já que uma parcela significativa deles utiliza esses equipamentos em seu dia-a-dia como meios de informação, entretenimento e comunicação como é o caso da TV que encontra um alto índice de aprovação por parte dos alunos que dedicam boa parte de sua horas diárias a assistirem aos programas apresentados por ela.

Os sujeitos da escola são telespectadores de muitas horas diárias, que computadas ao longo dos anos de vida indicarão entre os discentes de escolaridade inicial (de 1º grau) maior tempo de exposição à TV que envolvidos com atividades escolares (aulas e estudos) (...) Os alunos gostam de ver TV, vêem-na com prazer e aprendem pela TV”.

(PENTEADO, 1991, pg. 97)

Através de suas linguagens e programas adaptados às diferentes faixas etárias, a TV torna-se mais atraente e interessante que a escola que desconsidera em seus processos de formação e em seu currículo o aluno e suas experiências de vida.

A TV fala da vida presente, dos problemas afetivos – a fala da escola é muito distante e intelectualizada - e fala de forma importante e sedutora – a escola em geral é mais cansativa (...)”. (MORAN, Novembro de 2007).

Assim a TV torna-se mais eficiente em educar que a escola, pois recursos (lingüísticos) daquela são mais eficientes que os empregados por esta no processo educativo.

(...) A TV somente entretém enquanto que a escola educa. Justamente porque a televisão não diz que educa o faz de forma mais competente. Ela domina os códigos de comunicação e os conteúdos significativos para cada grupo: os pesquisa, os aperfeiçoa, os atualiza. Nós educadores fazemos pequenas adaptações, damos um verniz de modernidade nas nossas aulas, mas fundamentalmente continuamos prendendo os alunos pela força e os mantendo confinados em espaços barulhentos sufocantes, apertados e fazendo atividades pouco atraentes. (...)”. (MORAN, Novembro de 2007).

Diante dessa realidade, uma pergunta surge: “Quem educa quem nesse processo?” É a escola que se propõe a isso, mas não faz adaptações para tornar o ensino significativo, que apresenta um alto índice de evasão de seus alunos e cujo processo de ensino-aprendizagem possui problemas crônicos de longas datas? Ou é a TV apresentando aquilo que os alunos querem ver e que tem significado para eles, que possui uma linguagem elaborada e eficiente que prende a atenção de seus telespectadores?

E enquanto as tecnologias, especialmente a TV, ficam à margem do processo educativo, nossas escolas continuam formando cidadãos despreparados para o convívio nesta sociedade imersa em tecnologias, gerando assim um contingente humano de excluídos que certamente não encontrarão espaço neste mundo de globalização e competição em todos os setores.


CONCLUSÃO:


Acreditamos que para que a educação cumpra seu papel de formadora de sujeitos críticos e autônomos para a sociedade que se faz cada vez mais complexa, exigente, excludente como esta presente em nossos dias, não basta somente que a escola se proponha a educar e continue com seu ensino tradicional que não favorece a reflexão e a criticidade. Nem tão pouco que ela embase seu ensino no uso meramente de livros didáticos (que não possuem relação nenhuma com a realidade do aluno) e um quadro (branco, verde ou negro) onde o professor expõe suas aulas teóricas. Muito menos que nossos alunos continuem trilhando os caminhos da repetência do que é dito pelo professor sem a compreensão do mesmo e da reprodução do sistema social que os marginaliza. A escola tem que incluir em seu processo pedagógico o uso dessas tecnologias e especialmente a TV que tem sido responsável pelo tipo de valores, de comportamentos, de opinião e pela visão de mundo que as camadas populares adotam.

Esta inclusão das tecnologias, especificamente da TV, ao processo pedagógico escolar, não significa o mero uso das mesmas como recursos didáticos que não favorecem a compreensão dessas tecnologias e sua importância, seu papel e sua influência na sociedade. É preciso que cada aluno aproprie-se dessas tecnologias, da TV, para compreender suas linguagens, avaliá-las, experimentá-las e criticá-las num processo no qual o aluno torne-se também o produtor do conhecimento e partilhe com outros os saberes por ele conquistados.

A riqueza da apropriação da linguagem da TV no processo pedagógico está em explorá-la didaticamente fazendo com que os alunos reflitam sobre ela e a entendam criticamente, compreendendo sua influência na sociedade e em suas próprias vidas, deixando de serem assim seres alienados da realidade social da qual fazem parte. Dessa forma, TV e Escola podem inserir-se no mesmo espaço numa relação que vai além da concorrência: de cooperação. E a educação acontecerá como sempre se propôs: como instrumento de emancipação dos sujeitos e formadora de cidadãos críticos, reflexivos e participativos da sociedade na qual se inserem, capazes de compreenderem as diferentes linguagens existentes nesta mesma sociedade e de lutarem por seus direitos e por espaços que lhes foram negados durante toda sua vida por aqueles que lutam por manter e estão à frente dessa sociedade hierarquizada.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


FÉRRES, Joan. Televisão e Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

PENTEADO, Heloísa Dupas. Televisão e Escola: conflito ou cooperação? – São Paulo: Cortez, 1991. – (Coleção educação Contemporânea).

MORAN, José Manuel. Desafios da televisão e do vídeo à escola. Disponível em:

http://www.eca.usp.br/prof/moran/desafio.htm Acessado em: Novembro de 2007.




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Artigo produzido como requisito da disciplina EDC287- Educação e Tecnologias Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia/ Faculdade de Educação, sob a orientação da professora Maria Helena Bonilla
2 Graduanda em pedagogia pela Universidade Federal da Bahia.ARTIGO ARTIGO
ARTIGO ARTIGO ARTIGO TV E ESCOLA: UMA RELAÇÃO ALÉM DA CONCORRÊNCIA.1

Por Alany Araújo.2

Este trabalho é uma extensão das discussões, pesquisas e reflexões ocorridas durante a elaboração e apresentação do Seminário TV e Vídeo do qual a autora fez parte. O artigo propõe-se a apresentar as influências da TV em nossa sociedade e a relação entre esta e a Escola numa proposta para construção de uma educação formadora de cidadãos críticos, autônomos e participativos. Para tanto, o mesmo embasa-se no trabalho de alguns teóricos cujas pesquisas e reflexões contribuíram para a elucidação do que será apresentado.

PALAVRAS-CHAVE: TV, Escola e Educação.

AS INFLUÊNCIAS DA TV NA SOCIEDADE

Nunca houve uma época de tantas transformações na sociedade como esta. O tempo presente é marcado pelas profundas mudanças introduzidas pela globalização, o neoliberalismo e as revoluções tecnológicas nos campos sociais, econômicos, políticos, culturais e educacionais em escala global. A sociedade atual, fruto dessas transformações é profundamente marcada pela informação, pelo conhecimento e pela técnica, caracterizada por um novo modelo de produção no qual estão presentes também as novas tecnologias. É, pois, dentro desse novo contexto no qual as tecnologias evoluem em um ritmo anteriormente inimaginável e as informações são renovadas e ampliadas a cada minuto rompendo com os limites do tempo e dos espaços geográficos com o uso cada vez maior da internet, que encontramos a TV como o veículo de informação mais difundido e utilizado entre as pessoas. Esse veículo de comunicação não perdeu seu lugar de destaque mesmo após o surgimento dos Orkuts e Msn, dos jogos de internet e dos sites de busca. Ela continua entretendo, informando, continua invadindo os lares e fazendo novos adeptos de sua influência.

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1 Artigo produzido como requisito da disciplina EDC287- Educação e Tecnologias Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia/ Faculdade de Educação, sob a orientação da professora Maria Helena Bonilla.

2 Graduanda em pedagogia pela Universidade Federal da Bahia.

esde sua tímida chegada nos anos 50, a TV tem se tornado um objeto indispensável nos lares de milhões de brasileiros. Seja em um humilde barraco de madeira construído sobre palafitas ou em uma luxuosa cobertura das grandes cidades, a existência de um ou mais aparelhos de TV não é algo difícil de ser observado.

Em muitas famílias, condiciona tanto a organização do tempo como a formação do espaço. Depende da televisão a hora de ir deitar, de ir ao banheiro, de quando serão feitas as refeições, de que forma será organizado o fim de semana, o que consomem...” (FÉRRES, 1996, pág. 08)

A chegada da TV em nossa sociedade trouxe enormes mudanças para a vida das pessoas. Um exemplo disso são os velhos costumes adquiridos pelo homem ao longo dos anos como as conversas em rodas de amigos, em bares, esquinas e nas casas que estão sendo cada vez mais substituídas pelo futebol ou pela novela das oito. A moda, os valores e o próprio jeito de falar das pessoas estão perdendo cada vez mais suas características próprias diante das influências da telinha; até mesmo as crianças que ficam o dia todo confinadas dentro de suas casa por causa da violência ou porque suas mães precisam trabalhar, encontram na TV uma eficiente alternativa às suas brincadeiras de gude.

Muito mais que um meio de comunicação, a TV em nossa sociedade é também objeto de consumo e favorecedora do consumismo apregoado pelo capitalismo presente em nossos dias.

Tudo na televisão incita o consumo, porque a televisão é reflexo e sustentação de uma sociedade para o consumo”. (FÉRRES, 1996, pág. 26)

As grandes empresas conseguem altos índices de vendas após anunciarem seus produtos na TV; os comerciais por ela veiculados produzem um grande efeito na sociedade que internaliza os apelos dos grandes anunciantes que tentam convencê-los de que seus produtos são bons e que todos precisam comprá-los. Incrivelmente, as pessoas vão construindo suas idéias do que podem ou não comprar, do que precisam ou não ter e do que é bom ou ruim com base naquilo que é divulgado na TV. Dificilmente uma pessoa deixará de levar aquele sabão em pó que é anunciado constantemente na TV para comprar o outro do qual nunca ouviu falar, por melhor que este seja. A TV normalmente está sempre mostrando um novo produto (mais moderno, mais bonito, com muito mais funções etc.) mesmo que a versão anterior desse mesmo produto mal tenha chegado às prateleiras, como é o caso dos celulares e computadores dos quais um novo modelo é lançado no mercado em um espaço de tempo curtíssimo. A TV incube-se da missão de convencer os seus telespectadores da necessidade de terem esse novo produto mais moderno, mais bonito e com muito mais funções que aquele que eles possuem em sua casa e que foi comprado no ano passado e com isso vai gerando na sociedade uma cultura do consumismo irrefreado e inconsciente. Embora a propaganda tenha um grande efeito nas camadas populares, a maioria dos produtos anunciados na TV não podem ser consumidos pelas pessoas de baixa renda por serem caros e dispendiosos. Além de estimular o consumo, a TV também é objeto de grande consumo em nossa sociedade, a exemplo disso temos a grande disseminação desse aparelho em relação a outras tecnologias. Todos querem ter uma TV independente do nível social, da classe que ocupam e do nível de escolaridade. As pessoas adquirem a TV porque buscam sempre estar informados do que acontece ao seu redor ou talvez porque a mesma seja o único meio pelo qual passam a conhecer o mundo além de suas realidades como acontece nos sertões nordestinos onde as famílias que vivem na zona rural, distantes da cidade passam a conhecer o dia-a dia das grandes cidades e das pessoas que nelas habitam.

A TV também é um aparelho ideológico a favor das elites que detém todo processo de produção e divulgação das informações veiculadas pelos meios de comunicação. Embora a TV tenha um alto nível de aprovação e receptividade por todas as camadas sociais, em suas programações e nas informações transmite, expressa apenas a visão, as idéias e as opiniões de uma classe: a elite. E isso porque grande parte dos meios de comunicação, principalmente as emissoras de rádio e TV, concentram-se nas mãos dos políticos e nas mãos daqueles que sempre estiveram à frente dos processos em nossa sociedade. É através da TV que as elites transmitem às camadas populares sua ideologia e garantem assim a manutenção do sistema social dividido hierarquicamente. As novelas trazem uma realidade completamente diferente daquela vivida pelas camadas populares; os telejornais são sempre produzidos a favor de quem está no poder e quando a TV decide mostrar o mundo no qual vivem as camadas populares, o faz maquiando a realidade e quase sempre colocando o indivíduo como responsável por sua condição miserável.

Como meio de controle social essa mesma TV que informa e entretém a sociedade, que permite ao indivíduo a experimentação de várias sensações é usada também por aqueles que detêm o poder, pois, o processo de produção e divulgação de informações e até mesmo os programas são controlados por essas elites que permitem apenas a veiculação daquilo que lhes favoreçam. Não é de se estranhar que essas mesmas informações cheguem ao sujeito fragmentadas, dosadas em pequenas porções para que o telespectador não desenvolva seu senso crítico e não perceba a verdadeira intenção por traz delas. Os próprios programas de TV com suas imagens e sons fabulosos e suas histórias fascinantes, não permitem que o assíduo telespectador tome consciência de sua real situação de oprimido e excluído do processo social vigente. Um exemplo disso é o período no qual acontece A Copa do Mundo onde a sociedade, quase que no seu todo vive um momento de letargia total, pois, enquanto os canais de TV mostram imagens de um Brasil unido de Norte a Sul pela chamada “paixão nacional”, os mesmos ocultam: as notícias de corrupção por parte dos políticos; as greves das classes trabalhadoras em busca de melhores condições de trabalho; a seca, a fome, a miséria e o descaso que caracterizam os nordestinos; os desempregos; as desigualdades e os preconceitos entre outros infortúnios, como se os mesmos nunca tivessem feito parte de nossa sociedade que vai às ruas de cara pintada e veste a camisa verde e amarela como símbolo de patriotismo e amor à nação.

Toda a influência da TV é alcançada através de uma linguagem específica que envolve o sensorial e o emocional daquele que a assiste. É através de uma linguagem que traz para o telespectador aquilo que lhe interessa e aquilo que mexe com suas emoções que a TV interage com seu público tornando-se eficaz em atingir nossos sentimentos.

Os meios de comunicação, principalmente a televisão, desenvolvem formas sofisticadas multidimensionais de comunicação sensorial, emocional e racional, superpondo linguagens e mensagens, que facilitam a interação, com o público. A TV fala primeiro do “sentimento” – o que você sentiu”, não o que você conheceu; as idéias estão embutidas na roupagem sensorial, intuitiva e afetiva.”

(MORAN, Outubro de 2007).

É por meio dessa linguagem que parte do concreto, do visível daquilo que é imediato, próximo, daquilo que faz sentido para o indivíduo que a assiste, que a TV produz um efeito eficaz nos sentimentos desse mesmo indivíduo, mexendo com suas emoções e seus sentidos. É por meio dessa linguagem também que a TV educa e transforma a sociedade e é justamente nesta eficiência da TV que se encontra a razão de sua concorrência com a escola.

A ESCOLA NA SOCIEDADE TECNOLÓGICA


Enquanto a sociedade vive um momento de grandes e complexas transformações, como foi dito anteriormente, a escola como espaço formador de cidadãos, caracteriza-se nesta sociedade de profundas mudanças como ambiente indiferente às mudanças trazidas pelas tecnologias do contemporâneo. Paradoxalmente, enquanto responsabiliza-se pela formação dos sujeitos que comporão nossa sociedade tecnológica, a escola isola-se em suas práticas arcaicas e tradicionais, cujo ensino não atrai e nem traz prazer algum para aqueles que estão envolvidos no processo educativo e não possui nenhuma ligação com a realidade vivida pelos alunos que não vêem o ambiente escolar como um espaço no qual seus valores, sua cultura e seus costumes são respeitados e reconhecidos.

A prática pedagógica realizada em nossas escolas não possui nenhuma relação com as transformações trazidas pela revolução tecnológica, pois enquanto esta acontece de forma assombrosamente rápida, o ensino parece seguir na contramão. Contramão porque em uma boa parcela de nossas escolas essas tecnologias não estão presentes e quando existem são usadas como meros recursos didáticos por professores despreparados que não conseguem articular o uso dessas tecnologias ao processo pedagógico, o que faz com que o ensino se torne distante da vida e da realidade das crianças e jovens que freqüentam as escolas já que uma parcela significativa deles utiliza esses equipamentos em seu dia-a-dia como meios de informação, entretenimento e comunicação como é o caso da TV que encontra um alto índice de aprovação por parte dos alunos que dedicam boa parte de sua horas diárias a assistirem aos programas apresentados por ela.

Os sujeitos da escola são telespectadores de muitas horas diárias, que computadas ao longo dos anos de vida indicarão entre os discentes de escolaridade inicial (de 1º grau) maior tempo de exposição à TV que envolvidos com atividades escolares (aulas e estudos) (...) Os alunos gostam de ver TV, vêem-na com prazer e aprendem pela TV”.

(PENTEADO, 1991, pg. 97)

Através de suas linguagens e programas adaptados às diferentes faixas etárias, a TV torna-se mais atraente e interessante que a escola que desconsidera em seus processos de formação e em seu currículo o aluno e suas experiências de vida.

A TV fala da vida presente, dos problemas afetivos – a fala da escola é muito distante e intelectualizada - e fala de forma importante e sedutora – a escola em geral é mais cansativa (...)”. (MORAN, Novembro de 2007).

Assim a TV torna-se mais eficiente em educar que a escola, pois recursos (lingüísticos) daquela são mais eficientes que os empregados por esta no processo educativo.

(...) A TV somente entretém enquanto que a escola educa. Justamente porque a televisão não diz que educa o faz de forma mais competente. Ela domina os códigos de comunicação e os conteúdos significativos para cada grupo: os pesquisa, os aperfeiçoa, os atualiza. Nós educadores fazemos pequenas adaptações, damos um verniz de modernidade nas nossas aulas, mas fundamentalmente continuamos prendendo os alunos pela força e os mantendo confinados em espaços barulhentos sufocantes, apertados e fazendo atividades pouco atraentes. (...)”. (MORAN, Novembro de 2007).

Diante dessa realidade, uma pergunta surge: “Quem educa quem nesse processo?” É a escola que se propõe a isso, mas não faz adaptações para tornar o ensino significativo, que apresenta um alto índice de evasão de seus alunos e cujo processo de ensino-aprendizagem possui problemas crônicos de longas datas? Ou é a TV apresentando aquilo que os alunos querem ver e que tem significado para eles, que possui uma linguagem elaborada e eficiente que prende a atenção de seus telespectadores?

E enquanto as tecnologias, especialmente a TV, ficam à margem do processo educativo, nossas escolas continuam formando cidadãos despreparados para o convívio nesta sociedade imersa em tecnologias, gerando assim um contingente humano de excluídos que certamente não encontrarão espaço neste mundo de globalização e competição em todos os setores.


CONCLUSÃO:


Acreditamos que para que a educação cumpra seu papel de formadora de sujeitos críticos e autônomos para a sociedade que se faz cada vez mais complexa, exigente, excludente como esta presente em nossos dias, não basta somente que a escola se proponha a educar e continue com seu ensino tradicional que não favorece a reflexão e a criticidade. Nem tão pouco que ela embase seu ensino no uso meramente de livros didáticos (que não possuem relação nenhuma com a realidade do aluno) e um quadro (branco, verde ou negro) onde o professor expõe suas aulas teóricas. Muito menos que nossos alunos continuem trilhando os caminhos da repetência do que é dito pelo professor sem a compreensão do mesmo e da reprodução do sistema social que os marginaliza. A escola tem que incluir em seu processo pedagógico o uso dessas tecnologias e especialmente a TV que tem sido responsável pelo tipo de valores, de comportamentos, de opinião e pela visão de mundo que as camadas populares adotam.

Esta inclusão das tecnologias, especificamente da TV, ao processo pedagógico escolar, não significa o mero uso das mesmas como recursos didáticos que não favorecem a compreensão dessas tecnologias e sua importância, seu papel e sua influência na sociedade. É preciso que cada aluno aproprie-se dessas tecnologias, da TV, para compreender suas linguagens, avaliá-las, experimentá-las e criticá-las num processo no qual o aluno torne-se também o produtor do conhecimento e partilhe com outros os saberes por ele conquistados.

A riqueza da apropriação da linguagem da TV no processo pedagógico está em explorá-la didaticamente fazendo com que os alunos reflitam sobre ela e a entendam criticamente, compreendendo sua influência na sociedade e em suas próprias vidas, deixando de serem assim seres alienados da realidade social da qual fazem parte. Dessa forma, TV e Escola podem inserir-se no mesmo espaço numa relação que vai além da concorrência: de cooperação. E a educação acontecerá como sempre se propôs: como instrumento de emancipação dos sujeitos e formadora de cidadãos críticos, reflexivos e participativos da sociedade na qual se inserem, capazes de compreenderem as diferentes linguagens existentes nesta mesma sociedade e de lutarem por seus direitos e por espaços que lhes foram negados durante toda sua vida por aqueles que lutam por manter e estão à frente dessa sociedade hierarquizada.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


FÉRRES, Joan. Televisão e Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

PENTEADO, Heloísa Dupas. Televisão e Escola: conflito ou cooperação? – São Paulo: Cortez, 1991. – (Coleção educação Contemporânea).

MORAN, José Manuel. Desafios da televisão e do vídeo à escola. Disponível em:

http://www.eca.usp.br/prof/moran/desafio.htm Acessado em: Novembro de 2007.



Artigo produzido como requisito da disciplina EDC287- Educação e Tecnologias Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia/ Faculdade de Educação, sob a orientação da professora Maria Helena Bonilla.ARTIGO ARTIGO

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Baianos, goianos, cariocas, amazonenses, piauienses, paraenses... Copa do mundo? Olimpíadas? Carnaval Carioca? Não! Foi o encontro para a 6ª Oficina para Inclusão Digital que aconteceu em Salvador nos dias 26 a 29 de Novembro de 2007 no Instituto Anísio Teixeira. O evento foi organizado pelo Governo Federal em conjunto com entidades da sociedade civil e parceiros locais.
A Oficina abordou vários temas:
Infra-estrutura, cidades digitais e redes locais;
TICs nas escolas;
Conteúdos locais (produção e inclusão);
Economia Solidária e arranjos produtos locais;
Governança da Internet;
Políticas públicas e Inclusão Digital.
Estes temas foram discutidos e apresentados nas oficinas realizadas durante todo o evento. Os participantes do mesmo, profissionais que atuam na direção de algum projeto de Inclusão Digital, levaram em suas bagagens muito conhecimento fruto da socialização de saberes diversidade de culturas e experiências das pessoas que vieram de todo o país.
Eles se deliciaram em um verdadeiro banquete de conhecimentos proporcionados pelos debates (lixo eletrônico, cibercrimes), plenárias (Infra-estrutura, cidades digitais, redes locais, governança da internet: resultados do fórum IGF 2007, conteúdos locais - produção e difusão, inclusão digital, economia solidária e arranjos produtivos locais, inclusão digital e uso intensivo de TICs nas escolas, política pública de ID e documento de Salvador) e pelas seguintes oficinas:
Elaboração de projetos;
Ambientes virtuais, cursos, tutoriais e referências online para atividades;
educação previdenciaária e serviços previdenciários online;
Streming: como fazer;
COMSAT - atividade GESAC;
Prodeb - Expresso. BA: Inclusão Digital dos servidores no Estado da bahia;
Gestão de unidade de inclusão digital;
Licenciamento de conteúdos online;
Ferramentas de gestão;
Como configurar uma estação de trabalho audio visual;
Metareciclagem;
SERPRO;
Educação previdenciária.
Aconteceu hoje no dia (28/11) na 6ª Oficina para Inclusão Digital a Oficina de Metareciclagem e estiveram à frente da mesma Pixel que trabalha na coordenação nacional do projeto Casa Brasil e Ismael Santos do Rio de janeiro (RJ), que é instrutor de informática e dá treinamento para gestores de telecentros do Sudeste e Goiás.
A sala onde aconteceu o evento estava lotada com gente de quase todo o Brasil e houve uma proveitosa discussão sobre sobre o conceito de Metareciclagem, reciclagem sem conscientização, o lixo comum e o lixo eletrônico e suas consequências para o planeta entre outras coisas.
E se você ainda não sabe o que é Metareciclagem, veja algumas informações colhidas lá na Oficina.
O que é Metareciclagem?
É a apropriação tecnológica para transformação social.
Quais são os princípios da Metareciclagem?
Apropriação crítica da tecnologia;
Ênfase na tecnologia social;
Software e conhecimentos livres;
Descentralização integradas;
Tecnologias siciais;
Como fazer Metareciclagem?
Como passar da reciclagem para a metareciclagem?
Recicle:
Produtos,
Métodos, Expressões.
Tudo é reciclável.
Compartilhe:
O conhecimento gerado, permita a replicação livre.
Aproprie-se:
Ocupe-se, replique, reinvente, recicle sem parar.
A idéia de Metareciclagem é uma ótima alternativa ao lixo eletrônico que é jogado em nosso planeta e produz terríveis efeitos. Precisamos conhecer mais afundo a Metarecilcagem para podermos fazer um desenvolvimento sustentável em nosso país, sem risco para o meio ambiente e desconstruindo a cultura do descartável tão enraizada em nosso meio e que acaba por fazer-nos jogar fora coisas que poderiam ser reaproveitadas como fez um piauíense que contou a todos na oficina que faz capas de caderno com placas mãe. Achei fantástico!!!
Bem e como metareciclagem incorpora não somente a idéia de reciclagem, mas também a de apropriação da tecnologia conhecêndo-a, como disse Pixel: "Não é possível se apropriar da tecnologia se você não a conhece", o instrutor Ismael demonstrou teoricamente a estrutura de um computador,mas depois, todos os participantes da oficina colocaram a mão na "máquina", eles montaram passo-a-passo um computador. Foi incrível!!!
E se você quer saber mais não deixe de pesquisar e buscar conhecer o que é metareciclagem.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

6ª Oficina p/ Inclusão Digital

Está acontecendo em Salvador, de 26 a 29/11/2007, no Instituto Anísio Teixeira (IAT), a 6ª Oficina p/ Inclusão Digital. Hoje (26/11), fui conferir as novidades do evento e fiquei surpresa ao saber que o evento é de âmbito nacional. Presenciei muitas pessoas de outros Estados (Amapá, Amazonas, Pará, Maranhão etc.) e outras ligadas ao processo de inclusão como o pessoal da rádio Faced da UFBA e a professora Maria Helena Bonilla que dá aulas na refrida instituição na disciplina Educação e Tecnologias Contemporâneas. Muitas oficinas aconteceram para atender os desejos de muitas pessoas que se interessam e pretendem trabalhar com a questão da inclusão. Estive presente na oficina de

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Pensamento Coletivo...

Inteligência Coletiva, Interatividade, Portal, Hipertexto, Simulação e Rede, todos esses conceitos geraram uma descontarída discussão na aula de hoje na disciplina EDC287 Tecnologias Contemporâneas e Educação. A aula me fez perceber que embora esse conceitos estejam tão presentes no cotidiano dos internautas, muitos deles são desconhecidos pela grande maioria que não sabem precisamente o que significa determinada palavra ligada ao mundo da internet. Para mim foi super interessante participar dessa aula, pois aprendi muita coisa. Por exemplo, um HIPERTEXTO não é um texto gigante como muitos pensam, não. A palavra é usada para nomear um texto que permite que você possa ir para outros textos através de portinhas chamas links. E a palavra INTELIGÊNCIA COLETIVA? Seu significado lembra um certo ditado: " duas cabeças pensam melhor que uma." Neste caso, duas não mas, três, quatro, cinco, seis etc.. Inteligência Coletiva é um princincípio que parte da idéia da colaboração de muitas pessoas, muitas inteligências através do uso da internet. Acho bacana pois, desse jeito fica mais fácil produzir: através das troscas, da colaboração etc..